17 de ago. de 2009

O sono da razão produz monstros


Nas duas últimas semanas a tal crise do Senado deixou o país perplexo. Pelo menos era o que se lia nos jornais e o que se falava nos botecos. Já que leio jornais e freqüento botecos diariamente, não pude conter o desejo de comentar o caso.


Meninos, eu vi e vivenciei os seis anos de Sarney, com inflação de quase 80% ao mês! Meninos, eu vi Collor derrotar Lula numa campanha em que a opinião pública foi escandalosamente iludida. Eu vi o confisco da poupança. Eu fui às ruas para pedir o impichement do Collor e comemorei sua queda. Eu sonhei com Lula na presidência em 94, em 98 e vibrei em 2002, quando ele finalmente chegou lá.


Por mais que eu entenda que a prática política tenha que envolver acordos nem sempre coerentes, que seja necessário e difícil manter a governabilidade neste país tão viciado em práticas escusas, por mais que eu tente entender, não dá pra assistir o Lula usando sua popularidade e sua influência nos bastidores para sustentar o Sarney no poder, junto com o Collor, o Renan e outras figuras do gênero. Não sou analista político, mas concordo com esta avaliação feita por alguns articulistas.


Inicialmente pensei em criar uma charge que descrevesse o "show de horrores do Dr. Lula", uma imagem que mostrasse um circo dantesco de figuras sinistras, criadas e comandadas por um mestre de cerimônias com a pinta daqueles cientistas malucos do cinema de terror. Talvez ainda faça esta charge, mas preferi desenvolver uma antiga idéia que me pareceu mais precisa e adequada ao momento.


Resgatei então uma imagem que admiro muito: a gravura O sono da razão produz monstros, feita no século XVIII pelo artista espanhol Francisco Goya. Na imagem de Goya, vemos um artista que dorme sobre sua mesa de trabalho, rodeado por vários seres monstruosos: corujas, morcegos gigantes e um gato de olhar estatelado e estado de prontidão.


Nesta charge, recrio a imagem usando uma configuração parecida com a original. Aqui, Lula dorme tranquilo e sorridente sobre sua mesa, enquanto a sua volta surgem das sombras noturnas as tais figuras sinistras: Sarney, Collor e Renan. O fim da razoabilidade e da coerência que marcavam o ideário defendido por Lula e pelo PT durante décadas, e que tanto nos motivou
a continuar acreditando na boa política, apesar de tudo, permite que estes homens ressurjam magníficos, ameaçadores e poderosos, de um passado que esperávamos já estar superado. Doce inocência.

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