9 de abr. de 2010

ZELAYA NA EMBAIXADA DAS MARAVILHAS




Além da epidemia de gripe suína e do terrível acidente no Atlântico com o avião da Air France, 2009 foi um ano de muitas crises. Crise econômica, crise no senado brasileiro e, finalmente, crise política em Honduras. Lula e seus assessores para política externa conseguiram envolver o Brasil naquele que talvez tenha sido o maior imbróglio da história da diplomacia brasileira.

O presidente Manuel Zelaya, deposto e exilado de seu país por aquilo que muitos consideraram um golpe de estado, retorna a Honduras e se instala na embaixada brasileira, com o consentimento de Lula. O que se passou nos bastidores desta manobra, não temos como saber ao certo, mas o fato é que o clima de tensão que se instalou no país, com o acirramento das divergências internas, se arrastou por meses, sem solução. O que seria um asilo político, transformou-se num gigantesco e potencialmente explosivo problema, para os hondurenhos e para Brasília.

Lembrei imediatamente daquela cena clássica do livro ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS, em que Alice entra na casa do coelho branco, por ordem do próprio dono da casa, come uns biscoitos e aumenta várias vezes o seu tamanho, transformando-se numa espécie de “casa monstro”, com braços e pernas saindo através de portas e janelas. O coelho, em pânico, sai a procura de ajuda para se livrar do tal “monstro gigante” que ocupou sua casa.

Busquei inspiração no desenho animado de Walt Disney, baseado no livro de Lewis Carroll, para reproduzir a cena. Alice é Manuel Zelaya, o coelho branco é Lula e a casa é a embaixada brasileira em Honduras. Melhor paralelo, impossível.

8 de abr. de 2010

QUEM É O CARA ?




A foto dos chefes de Estado do G20, reunidos em Londres para discutir medidas de solução para a crise econômica no início de 2009, foi mais um fator de exposição positiva para o presidente Lula, colocado diretamente ao lado da anfitriã, Rainha Elizabeth. Embora o cerimonial do palácio afirmasse que tal honraria é sempre reservada ao chefe de Estado com maior tempo de governo, muitos viram o fato como mais uma evidência do prestígio e do poder de influência do líder brasileiro junto a comunidade internacional.

Eu vi diferente. Acredito que todo chefe de Estado, em certa medida, é meramente o símbolo, a imagem encarnada de um processo ou de uma situação que necessariamente o transcende. Embora eu reconheça que isso não seja pouco, pois nem todo mundo tem vocação pra ídolo das massas, acho que todo líder carismático é isso: uma Rainha da Inglaterra. E será tão mais Rainha da Inglaterra, quanto maior for o mito que construir para se próprio.

Portanto, Lula está realmente muitíssimo bem colocado na foto. Não haveria posição mais justa. E por um átimo de segundo não consegui distinguir quem era a majestade e quem era a excelência. Assim coloquei a cabeça de Lula em Elizabeth e a cabeça de Elizabeth em Lula. Simbioses do poder.

Optei pela colagem fotográfica das cabeças, pensando nas lições de semiótica da faculdade de comunicação. O desenho caricatural das figuras poderia suprimir a contundência que eu desejava para a idéia. A foto é o próprio atestado da pré-existência do objeto (ou, pelo menos, assim é normalmente vista pelo público). Isso aumenta o poder de subversão da imagem, quando deslocamos o objeto, via fotografia, do seu lugar convencional.

7 de abr. de 2010

GABRIELA 2010


O ano de 2009, sob o ponto de vista político, chegou ao fim com as especulações e espectativas em torno das possíveis candidaturas para as eleições presidenciais de 2010. Eu estou desalentado com as perspectivas. O único dado novo e interessante do processo sucessório que começa a ser desenhado é a presença de duas mulheres de esquerda, Marina e Dilma, ambas com um forte histórico de atuação social e política.

Ainda em meados de 2009, li uma reportagem sobre o lançamento do livro FILHA, MÃE, AVÓ E PUTA, de Gabriela Leite, com uma breve biografia da autora. A figura e a história desta mulher me impressionaram muito. Sexagenária, bela e simpática, ela faz questão de afirmar que é “puta aposentada”. Depois que interrompeu sua atividade profissional, devido a idade, fundou a ONG “Davida” , passando a reunir e auxiliar outras putas através da instituição. Em seguida, fundou a grife DASPU (referência à grife paulista DASLU), com roupas criadas e confeccionadas por e, embora não exclusivamente, para putas. Sucesso total !

Pensei imediatamente: vamos acabar com a caretice na política tradicional. Se podemos ter uma ecologista oriunda das classes populares do norte e uma ex-guerrilheira nas eleições de 2010, por que não termos também uma autêntica líder do movimento social das prostitutas brasileiras ? Depois de fundar a ONG Davida e a grife DASPU, Gabriela poderia fundar o PPdoB (Partido das Putas do Brasil) e disPUTAR (não resisti ao trocadilho) a presidência. Teria meu voto.

Desenhei e pintei então, por antecedência, a foto oficial da Presidente Gabriela, já com a faixa presidencial, inspirada na foto oficial do Presidente Lula. Na foto atual, Lula está posando sorridente com sua faixa, em frente ao Palácio do Alvorada. Imaginei que Gabriela pudesse transferir a sede do poder para a Praça Tiradentes, ponto de prostituição do Rio que ela muito freqüentou. Seria, diga-se de passagem, ambiente muito mais adequado ao tipo de transação que se promove atualmente em Brasília. Assim usei como fundo do desenho, monumentos da praça.

Nem Dilma, nem Marina ! Gabriela 2010 !!!

Obs: o cigarro gigantesco na mão de Gabriela, é um protesto contra a Lei Antifumo.

6 de abr. de 2010

A REFORMA DO CAPITALISMO


Logo após a cúpula do G20, em abril de 2009, conversei com meu amigo Marcos Marinho, um apaixonado defensor das esquerdas. Ele estava indignado com uma notícia que lera naqueles dias.

Disse-me ele, entre um gole e outro de seu Campari: “Os EUA anunciaram a liberação de uma verba milionária para que a França possa fazer uma reforma na torre Eiffel. Eles argumentam que a torre é um dos símbolos do mundo capitalista, portanto deve ser revitalizado. Isso é um absurdo ! O mundo capitalista está falido, a beira de um colapso, e eles querem injetar milhões na reforma do maior símbolo de um sistema decadente !”

As relações políticas, militares e culturais entre EUA e França, dois países chave para o mundo ocidental capitalista, possuem raízes profundas e uma longa trajetória na história. Os franceses socorreram os americanos na Guerra de Independência. Os americanos socorreram os franceses após a invasão nazista na Segunda Grande Guerra. A Estátua da Liberdade foi um presente dos franceses aos americanos. Nada mais justo que os EUA devolvam agora a gentileza, financiando a reforma da Torre Eiffel.

Imageinei o ato final deste namoro, desta dança. A Estátua da Liberdade se entrega lânguida, a este verdadeiro símbolo fálico, emblema maior do poder capitalista (diga-se de passagem, construído sobre valores estritamente masculinos, para não dizer machistas), que no momento nescessita desesperadamente tirar suas teias de aranha, seu ferrugem, seu atraso... em suma: trocar o óleo.

EXPOSIÇÃO

Quero agradecer a todos que estiveram na minha exposição do Pró-música, O MUNDO É UM PANDEIRO, encerrada ontem. Foi muito gratificante receber os comentários, ver o trabalho provocando reações diversas nas pessoas, do riso à perplexidade. A partir de hoje vou publicar aqui as seis charges e textos da exposição que ainda não estavam disponíveis on line, pois foram finalizadas nas vésperas do evento de abertura. Todas elas, porém, foram concebidas e já estavam iniciadas em 2009. Aguardem agora a publicação do livro...

Quem ainda não tem, adquira meu livro anterior, O IMPERADOR DE PASÁRGADA, nas livrarias TERCEIRA MARGEM, LIBERDADE, LEITURA, PLANET MUSIC, VOZES, PEDRO II ou QUARUP.