11 de jan. de 2013

CRISTO OXALÁ

Esta foi a última ilustração que fiz no CEAD, ano passado, para o material didático de um curso sobre relações raciais. A proposta era integrar numa mesma imagem elementos da cultura africana e referências culturais diversas. A professora me deu total liberdade para criar as imagens, o que me permitiu exercitar profissionalmente algo que venho fazendo já há algum tempo com meus desenhos: a releitura de imagens clássicas ou emblemáticas, estabelecendo uma articulação com outras imagens, fatos, personagens, textos, músicas, enfim com qualquer elemento que, colocado em contraponto, possa revelar aspectos inusitados do material original.

Foram produzidas quatro imagens que pretendo compartilhar aqui nos próximos dias. Há sempre um texto que acompanha os desenhos, explicitando as referências culturais utilizadas e disponibilizando links para materiais relacionados na web. Pretendo dar sequência a este trabalho, de forma independente, com a criação de novas imagens dentro da mesma proposta.

Nesta imagem, comento o filme Rio 40 graus e o sincretismo religioso brasileiro através das figuras de Cristo e Oxalá. O trabalho foi altamente gratificante e este desenho me agradou de forma particular. Abaixo, segue também o texto do material com os links disponíveis.



O filme Rio 40 graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos, tematizava de maneira inédita o cotidiano da população dos morros do Rio de Janeiro e teve sua exibição proibida pela censura. Na última cena do filme, após imagens do ensaio de uma escola de samba, vemos a paisagem da Baía de Guanabara, com o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor, ao som da música “A voz do morro“, de Zé Keti. Um dos argumentos do censor para a proibição do filme, seria a coincidência da imagem do Cristo Redentor com o verso da música que diz: “eu sou o rei dos terreiros” (coincidência não intencional, segundo o diretor Nelson Pereira).

A partir da observação feita por uma amiga minha, imaginamos a estátua do Cristo Redentor transformada em Oxalá, a divindade que corresponde a Jesus no sincretismo da umbanda e do candomblé com o catolicismo (a mesma imagem já foi também sugerida na música “Cristo e Oxalá”, da banda O Rappa).

O quadro reproduz o visual típico de um fotograma cinematográfico envelhecido, com o carimbo da censura, como se esta imagem fosse de fato a última cena do filme Rio 40 graus.

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