25 de jun. de 2009

Desenhos para a exposição ARQUITETURA DO CORPO

A meses atrás mostrei ao Marquinho a boneca de um livro onde eu reunia uma série de charges e ilustrações que eu fizera durante o ano de 2008. Marquinho parece ter gostado dos desenhos e me convidou para participar dessa exposição, convite que, além de uma grande honra, tornou-se também um desafio.
Imediatamente me lembrei de um desenho que fiz a mais de dois anos, sem compromisso algum: uma bailarina que se equilibra, suspensa no ar, sobre um tênue jato d’água. Era um mero devaneio, um “capricho”, como diria Goya, mas a imagem me pareceu, no mínimo, simpática.

Refletindo sobre o significado deste desenho, além da evidente descrição de um passo de balé, cheguei a conclusão que, mais do que de dança, a imagem falava sobre leveza.
Pensando em outras imagens que poderiam compor, com esta primeira, a exposição, não cheguei a imaginar nada que me estimulasse o suficiente. Abandonei a idéia inicial de falar sobre leveza e passei a pensar o seguinte: assim como existe música em todos os sons, mesmo no ronco gutural do motor de um carro, também não seriam nossos movimentos cotidianos formas insuspeitas de um balé prosaico, por vezes sutil e contido, por vezes manifesto em arroubos de gesticulações furiosas ou felizes ?
Daí resolvi desenhar movimentos e gestos que não estivessem diretamente ligados ao balé e a dança, movimentos que simplesmente evidenciassem um balé oculto em gestos diversos. Imediatamente pensei nas bicicletas acrobáticas de Pelé, nos gestos alucinados, grotescos e cortantes de Hitler a discursar em êxtase, nos passos gigantescos e cambaleantes de Armstrong ao andar sobre o solo lunar. Falaria então de dança e expressão corporal, sem desenhar a dança ou o balé, mas fazendo o que mais gosto: dialogar com imagens emblemáticas e consagradas, patrimônios de nosso imaginário coletivo.
Terminando o trabalho, eis que descubro uma artimanha do meu inconsciente: falando da dança oculta em gestos diversos, continuei, sem perceber, a falar também em peso e leveza.

Hitler é física e moralmente pesado. Está plantado no chão, preso à terra. Não é capaz de nenhuma transcendência redentora e dirige um olhar furioso aos céus, enquanto se contorce, como a reclamar aos deuses de sua infeliz missão neste mundo. A águia nazista zomba de seu líder, com um malicioso sorriso.












Pelé se atira aos ares, ergue-se a mais de um metro do chão, num esforço heróico para vencer a gravidade implacável. E, por segundos, imortalizados em diversas fotos, parece voar.
















Armstrong flutua, na ausência quase total de gravidade, num momento mágico, que fez a humanidade desejar esta suprema leveza.















Imaginem uma bicicleta de Pelé na lua ! Imaginem Hitler num campo de futebol, tentando fazer, entre desconcertado e constrangido, os meros movimentos de uma singela embaixadinha. Ou Armstrong a falar, com seus gestos elegantes, em cima daquele púlpito cinza de concreto, para uma perplexa audiência nazista, sobre a experiência de se estar literalmente no mundo da lua. Talvez estes sejam excelentes temas para próximos desenhos.

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